
SOUC 2025: “Crês nisso?” — Semana de Oração pela Unidade Cristã e os 1.700 anos do Concílio de Nicéia
A Semana de Oração pela Unidade Cristã representa uma expressão vital do ecumenismo contemporâneo, cujo objetivo primordial é a superação das divisões eclesiais que marcam a história do cristianismo desde o seu surgimento. A escolha do tema “Crês nisso?” (João 11,26) para 2025 aponta para uma abordagem profundamente bíblica e existencial, desafiando os cristãos a revisitar a essência da sua fé e a natureza do Cristo em que se fundamenta.
Este questionamento dialoga diretamente com os debates teológicos que permeiam as comunidades cristãs, especialmente frente às fragmentações causadas por divergências doutrinárias, culturais e históricas. O convite a refletir sobre um Jesus “compassivo, solidário e libertador” contrapõe-se à tendência de apropriações ideológicas que podem empobrecer a mensagem evangélica, reforçando a importância de uma cristologia centrada no amor, na justiça e na esperança.
A evocação do Concílio de Nicéia, em seu 1.700º aniversário, insere a SOUC num marco histórico crucial para a identidade cristã. O Concílio não apenas afirmou dogmas centrais — como a divindade do Filho e a consubstancialidade com o Pai —, mas também inaugurou um método ecumênico, no sentido original romano, de reunir os líderes da Igreja para definir coletivamente a fé. Este momento histórico serve hoje de paradigma para o ecumenismo moderno, que busca a comunhão não apenas dogmática, mas relacional e missionária entre as igrejas.
Neste sentido, vale salientar, que a SOUC é um fenômeno interdisciplinar que envolve teologia sistemática, história e prática pastoral. Ela demonstra como a liturgia, a oração e o diálogo interconfessional são ferramentas essenciais para a construção de pontes entre tradições, refletindo um compromisso concreto com a unidade visível da Igreja — um ideal que desafia a fragmentação, mas também respeita as diversidades.
No contexto brasileiro, a adaptação da SOUC ao calendário do hemisfério Sul, associada à festa de Pentecostes, reforça simbolicamente a ideia do Espírito Santo como agente de unidade e renovação, enfatizando a dimensão pneumatológica do ecumenismo. Isso aponta para uma espiritualidade ecumênica que não é apenas institucional, mas também profundamente vivencial e comunitária.
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1700 anos do Concílio de Nicéia e a SOUC 2025
O Concílio Ecumênico de Nicéia, convocado em 325 d.C. pelo imperador Constantino, representou o primeiro grande esforço de unificação doutrinária e organizacional da Igreja cristã em um contexto de crescente pluralidade e controvérsia teológica. Seu principal objetivo foi enfrentar a controvérsia ariana, que questionava a plena divindade de Jesus Cristo.

Teologicamente, o Concílio reafirmou e definiu o dogma da consubstancialidade do Filho com o Pai (homoousios), afirmando que Jesus é verdadeiramente Deus, da mesma essência que o Pai, superando assim visões que o reduziriam a uma criatura ou ser inferior. Essa definição foi consagrada no Credo Niceno, que permanece até hoje como uma declaração central da fé cristã para diversas tradições — católica, ortodoxa e muitas comunidades protestantes.
Além da dimensão cristológica, o Concílio estabeleceu a base para a unidade da Igreja ao promover um processo colegial de decisão teológica e eclesial, que antecipava práticas ecumênicas ao reunir bispos de várias regiões do Império Romano para refletir e deliberar coletivamente. Ele também fixou a data da Páscoa, buscando uniformidade litúrgica e comunitária.
O legado do Concílio de Nicéia é multifacetado: não apenas um marco dogmático, mas também institucional, pois inaugurou um modelo de concílios ecumênicos que, ao longo da história, serviram para resolver controvérsias e fortalecer a unidade da Igreja. Em seu sentido original, “ecumênico” referia-se ao âmbito do Império Romano, mas no ecumenismo contemporâneo, que a SOUC busca fomentar, o termo ganha uma dimensão renovada de diálogo entre as diferentes tradições cristãs, visando a comunhão e a reconciliação.
Este marco histórico dialoga profundamente com o tema da SOUC 2025, pois a pergunta “Crês nisso?” remete diretamente à reflexão sobre a essência da fé cristã, que foi objeto de afirmação decisiva em Nicéia. A lembrança do Concílio inspira os cristãos hoje a buscar uma fé autêntica, fundamentada e capaz de superar as divisões, assim como os bispos do século IV fizeram diante de desafios teológicos e políticos.
Caso queira saber mais sobre a SOUC 2025, acesse: Convite da CNBB para a SOUC 2025